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Foto do escritorAna Palombo

Linguagem neutra: pra não ficar em cima do muro



É incrível como no processo de empreender temos que nos posicionar de frente a certas situações que nunca imaginamos. E, no meu caso, uma dessas situações foi quando conheci a tal da Linguagem neutra.


Em 2020 aceitamos o desafio de tirar da gaveta um antigo sonho: criar um curso online. E esse foi um processo que me trouxe muitas reflexões e ensinamentos, não só técnicos acerca do tema que trabalho e estudei para criar o curso, mas também em outros assuntos como inclusão, empreendedorismo e liderança.

Isso mesmo, até sobre liderança. E é por essa abordagem que quero começar essa história.


Demorei 3 dias para responder a uma pergunta 


Quando terminei de escrever a apostila do curso, enviei para uma das colaboradoras da Palombina para que ela pudesse revisar. Depois de alguns dias de leitura da apostila, ela me manda a seguinte mensagem: “Aninha, que linguagem você quer usar na apostila?”.


Eita, como assim? Essa pergunta me pegou de surpresa e fiquei com uma grande interrogação pairando acima da minha testa. Como assim que linguagem, gente? “Português, uai”, foi o que respondi.


Mas não era sobre isso que ela estava falando, então me explicou: “Não… é que a maior parte do público da Palombina é feminino, então você vai se

r com ‘elas mesmas’, vai assumir o plural comum e falar com ‘eles mesmos’ ou vai usar uma linguagem neutra e dizer ‘eles mesmes’?”. Aí ela me explicou que, se quiséssemos fazer uma fala mais inclusiva, a última opção seria bacana pois usava a linguagem neutra.


Essa mensagem ficou no vácuo por 3 dias. Além de estudar e ter que conhecer mais sobre a linguagem neutra para opinar, percebi que eu precisava também compreender qual era o meu papel nessa resposta. 


O que é linguagem neutra


A linguagem neutra é uma linguagem que busca se livrar do binarismo masculino/feminino com o objetivo de conquistar uma comunicação mais inclusiva. Isso porque podemos excluir outras pessoas, seja pela forma como falamos quanto pela forma que escrevemos, mesmo sem querer ou perceber. 


Um exemplo simples seria o próprio uso do plural. Muitas vezes, em uma sala cheia de mulheres com um único homem é preciso usar o plural “eles”, pois a língua portuguesa não permite uma dinâmica de “maioria” na flexão dos verbos na fala. Tampouco permite a visualização da “minoria” que não está inclusa no ele/ela. Portanto, a questão vai muito além disso. 


O binarismo masculino/feminino não é suficiente, pois existem muitas pessoas que não se identificam com nenhum desses dois gêneros. Existe um universo todinho longe do azul ou rosa, como você já sabe. E é aqui que estamos lidando no cerne dessa questão: inclusão. 


Uma empresa além do eu


Quando eu comecei a Palombina era muito fácil decidir e falar sobre meus valores pessoais, no que eu acreditava e queria refletir na empresa. Eu comunicava por mim, falando no que acredito, na realidade em que vivo. Só que, felizmente, a empresa cresceu e novas pessoas vieram para somar no trabalho, nas conversas e também na comunicação da empresa. Hoje eu não falo apenas por mim, eu falo por nós.


Foi por isso que quando a pessoa me trouxe a dúvida sobre “qual linguagem usar” eu percebi que, minimamente, essa era uma indagação de alguém que cogitava uma linguagem diferente. Foi, então, que me dei conta de que talvez os valores da empresa tinham mudado ao agregarmos novas pessoas e elas minimamente estavam me cobrando uma posição, uma recolocação da comunicação da empresa, abraçando os valores das pessoas que somaram.


A linguagem neutra tem o objetivo dar voz aqueles que não se sentem incluídos pela língua portuguesa. E ao mudar a comunicação da Palombina para uma neutralidade de gênero, eu estaria firmando a minha posição na luta pela inclusão, uma decisão que não era só minha, era nossa. Assim, teríamos uma comunicação que não representava apenas os meus valores, mas os nossos. 


A linguagem neutra vai muito além do “e”


O que mudou na nossa comunicação? Agora algumas frases simples, umas palavras que não estamos acostumados a ver e coisas assim. Por exemplo, a frase “vamos juntos” se tornou “vamos juntes”, ou até “um beijo à todos os empreendedores” se tornou “um beijo à todos os empreendedories”. 


São pequenas mudanças textuais que representam uma grande mudança de posicionamento.


E eu sei que não é fácil comunicar através da linguagem neutra, pois estamos acostumados a distribuir gêneros na nossa fala, mas assim como no processo de aprendizagem de uma nova língua, vamos nos erros e acertos rumo à fluência. 


Da mesma perspectiva, sei que muitas pessoas que não fazem parte da comunidade LGBTQI+, assim como eu, não pensem ativamente sobre atitudes inclusivas, mas assim como no processo de aprendizagem de um novo hábito, podemos olhar para as nossas ações e refletir sobre o que podemos fazer diferente para nos posicionar, sair do muro e transformar a comunicação do eu na comunicação do nós. 


Dessa forma, visamos uma comunicação empresarial que muda a perspectiva binária para uma perspectiva inclusiva. Assim. levantamos uma bandeira, somamos mais um apoio à uma luta e reafirmamos nosso maior propósito: vamos juntes.

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